A Revolução Francesa
não mudou apenas o regime político da França. Abalou a Europa inteira e
repercutiu em todo o mundo, sob a forma de um surto de liberalismo. Nos
primeiros anos do século XIX, os Direitos do Homem, a democracia e a liberdade
de expressão tomavam conta da mentalidade européia, modificando os seus
critérios de valor. Por toda parte o espírito religioso passava a um plano de
fundo. Por toda parte a arte se desligava das amarras do passado. E pouco a
pouco a música deixava os salões, pondo-se ao alcance do povo, apresentada nas
casas de concerto. Os compositores passaram a colorir suas peças com produtos
da cultura popular, mas o subjetivismo se impôs como a principal característica
da música Romântica. A estilização ganhou um ar de defeito: diminuía a força da
expressão individual.
Paganini (1782-1840)
encarnava bem essa nova ideologia artística, colocando em destaque a sua figura
estranhamente feia para enfatizar o seu virtuosismo "diabólico". Em
seus seiscentos lieder, Schubert (1797-1828) expunha a sua natureza terna e delicada.
Mendelssohn (1809-1847) contava através da música as suas impressões de viagem,
nas sinfonias Italiana e Escocesa.
Na Itália, a ópera
aderiu ao Romantismo e, conseqüentemente, teve que reformar os padrões de
interpretação até então vigentes. Agora, o cantor tinha que se dar inteiramente
ao público e empolgá-lo também por seu próprio talento teatral.
Profundamente
influenciados por textos literários, Rossini (1792-1868), Bellini (1801-1835) e
Donizetti (1797-1848) tornaram-se os senhores da criação operística romântica,
que logo cruzou as fronteiras italianas e se popularizou em outros países. No
entanto, as guerras contra Napoleão parecem ter exacerbado a consciência
nacional dos povos europeus, levando-os à busca de formas próprias.
A primeira reação à
música lírica da Itália partiu de Carl maria von Weber (1786-1826), que "germanizou" a ópera, inspirando-se na época medieval e na mitologia da Alemanha.
Seu herdeiro seria Richard Wagner (1813-1883), que, em busca de "uma obra
de arte integral", criou o Drama Musical. Este reunia a pintura, a poesia
e a arquitetura, além da música. Mas, não contente com um drama isolado, Wagner
compôs então uma Tetralogia (conjunto de quatro dramas). As suas experiências
no campo tonal deram à obra wagneriana uma tal originalidade que se criou para
os demais compositores românticos um problema: ou seguiam Wagner ou lutavam
contra ele.
Na França, Giacomo
Meyerbeer (1791-1864) optou pela criação monumental, desenvolvendo a Grande
Ópera. Jacques Offenbach (1819-1880) preferiu a leveza e criou a Opereta.
O realismo e a intensa
força dramática das óperas do italiano Giuseppe Verdi (1813-1901)
celebrizaram-no em pouco tempo e sua influência estendeu-se a músicos
românticos de todo o mundo. Carlos Gomes (1836-1896) foi um deles.
O Nacionalismo
Romântico
Durante muito tempo a
Europa vivera sob a influência da música da Itália, que só foi atenuada pelo
barroco de Händel e Bach. A ópera romântica de Weber e o drama musical de
Wagner eliminaram esse monopólio italiano. Mas em compensação criou-se outro na
Alemanha, pelo fato de traçar as linhas mestras que orientavam o Romantismo.
Em Paris, onde se
refugiara da ameaça do czarismo russo, o polonês Frédiric Chopin (1810-1849)
ganhou fama tocando ao piano as mazurcas e polonaises que compunha, numa
evocação dos ritmos típicos de sua terra.
Por volta da mesma
época, um prodigioso pianista húngaro chamado Franz Liszt (1811-1886) percorria
o continente encantando as platéias com a agilidade rítmica das suas Rapsódias
Húngaras. Inspirado pela brilhante arte orquestral do seu contemporâneo Hector
Berlioz (1803-1869), introduziu o Poema Sinfônico, cujas liberdades de forma o
levaram a um dos primeiros planos no panorama romântico.
Na Rússia, Michail
Glinka (1804-1857) liderou um movimento nacionalista que originou o famoso
Grupo dos Cinco - Rimsky-Korsakov (1834-1908), Cesar Cui (1835-1918), Balakriev
(1837-1910), Borodin (1833-1887) e Moussorgsky (1839-1881). Afastando-se da
música ocidental, esses imaginosos autodidatas buscaram deixar de lado o
sistema tonal tradicional para cultuar os exóticos sons modais da música sacra
eslava e do folclore russo.
Pyotr Ilitch
Tchaikowsky (1840-1893) também buscou dar à música da Rússia uma expressão
autêntica. Mas fêz o contrário dos "Cinco", assimilando da música
ocidental de Mozart, Berlioz, Liszt e Délibes muitos elementos que fundiu com
os do patrimônio cultural russo nas suas composições.
A Tchecoslováquia teve
dois representantes notáveis do romantismo nacionalista: Bedrich Smetana
(1824-1884) e Antón Dvorak (1841-1904). Na Noruega, foi durante esse período
que surgiu o maior dos seus compositores: Edvard Grieg (1843-1907). O mesmo
ocorreu na Finlândia com Jan Sibelius (1865-1957), considerado o expoente
máximo da música naquele país.
O exotismo e a riqueza
dessa música de raízes folclóricas foram sem dúvida fatores importantes para a
elevação do Romantimo ao seu nível mais alto. E a reação de Johannes Brahms
fôra romântico quando jovem, mas a obra de Bach mudou-lhe as idéias, tornando-o
um antiwagneriano ferreno, na maturidade.
Outro notável
compositor do Romantismo foi o belga César Franck (1822-1890), criador da forma
cíclica, pela qual constrói uma obra inteira, baseando-se num único tema.
Vicent D'Indy (1851-1931), Chabrier (1841-1894) e Fauré (1845-1924) fizeram
evoluir as concepções do mestre em obras marcadas pela irregularidade
intencional de ritmo e harmonia, as quais já preludiavam o fim do Romantismo.
(Autor desconhecido)
Nenhum comentário:
Postar um comentário