Um conceito já
inteiramente abstrato de música orientava a invenção dos mestres
franco-flamengos, que foram os pioneiros do estilo renascentista. Chegavam a
compor para 36 vozes paralelas, num verdadeiro malabarismo contrapontístico. A
virtuosidade era praticamente uma norma seguida por essa escola na qual se
destacaram Guillaume Dufay (1400-1474) e Johannes Ockeghem (1430-1496). E a
virtuosidade foi levada a um ponto muito alto por Josquin des Prés (1445-1521),
o mais brilhante de todos os flamengos.
No clima da Renascença,
a polifonia católica passava das igrejas para os salões da aristocracia. Os
reformistas protestantes faziam o oposto, indo buscar entre o povo os seus
temas musicais. Enquanto isso, os flamengos percorriam a Europa propagando o
seu estilo, que fez nascer vários gêneros de canção (chanson, song e lied). Na
França, Clément Janequin (1480-1558) não foi o único a sofrer a influência
flamenga. Na Inglaterra, também, a escola dos virtuoses conquistou seguidores
como William Byrd (1543-1623). O compositor Orlando de Lassus (1531-1594) viveu
em vários países, de modo que é difícil saber onde conheceu a música dos
flamengos. Mas não há dúvida de que ela transparece em suas obras, cuja
expressividade sugere a crise espiritual do seu tempo.
Gioseffe Zarlino
(1517-1590) formulou as noções básicas da Tríade Tonal, estabelecendo que a
tônica, a dominante e a subdominante seriam, respectivamente, a primeira, a
quinta e a quarta notas de um certo tipo de escala. Essa invenção teórica
trouxe novos recursos à música.
Por seu sabor popular,
o canto protestante passava à frente da liturgia católica e a inquietação da
Igreja ante esse fato se mostrou no Concílio de Trento (1563), quando os
jesuítas esboçaram uma tentativa de revitalizar a sua música. No entanto,
esbarraram com um obstáculo sério: as normas canônicas interditavam o acesso ao
estilo flamengo, alegando que este confundia o texto religioso. O impasse
permaneceu até que Giovanni da Palestrina (1525-1594) encontrou uma solução
hábil: Se o texto era o dilema, restava o recurso de dar mais destaque às
palavras para ressaltar na música as emoções sugeridas por ele. Assim, eliminou
o acompanhamento instrumental, criando composições "a capela", isto
é, dedicadas exclusivamente à voz humana.
Mas, no auge da
expressividade renascentista, o desejo de atingir o grandioso exigiu de novo a
participação do acompanhamento instrumental. As explorações de Andrea Gabrieli
(1510-1586) no sentido de usá-lo como apoio à música de vários coros levaram
seu sobrinho Giovanni Gabrieli (1557-1612) a enveredar pelo mesmo rumo. Em
obras monumentais, Giovanni acrescentou instrumentação à sua policoralidade.
(Autor desconhecido)
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